Consiste em um conjunto de hipóteses sobre como indivíduos racionais tomam decisões envolvendo risco. A ideia de que o valor subjetivo atribuído a prêmios monetários decorrentes de decisões envolvendo diferentes riscos (cada qual com uma dada probabilidade de ocorrência, e baseados na utilidade esperada de tais prêmios) foi originalmente proposta pelo matemático suíço Daniel Bernoulli por volta de 1713 como uma solução para o chamado Paradoxo de São Petersburgo. O Paradoxo de São Petersburgo refere-se a um jogo simples: joga-se uma moeda não viciada para o ar até que o resultado seja “Coroa”. Se der coroa no segundo lançamento, o jogador recebe como prêmio 2 ao quadrado unidades (monetárias) como prêmio. Se der coroa no terceiro lançamento, o prêmio será equivalente a 2 ao cubo unidades monetárias. Se der coroa no quarto lançamento, o prêmio será 2 a quarta potência , e assim sucessivamente. A soma das probabilidades da ocorrência de prêmios seria a unidade, mas, para um número infinito de lançamentos, o valor esperado de prêmios é infinito. Dessa forma, seria lógico esperar que os jogadores apostassem grandes somas de dinheiro nesse jogo. Mas o problema consistia em explicar por que os indivíduos se negavam a apostar somas muito elevadas nesse jogo. Esse problema colocava sérias dúvidas sobre o tipo de análise da escolha racional sob risco prevalecente à época, baseada simplesmente no cálculo do valor esperado. Para explicar por que isso não acontecia, Bernoulli “resolve” tal Paradoxo mostrando que as pessoas pagariam apenas uma quantidade limitada de dinheiro para participar de um jogo cujo valor esperado é infinito porque o valor subjetivo que elas atribuem a certa quantidade de dinheiro, digamos x, tende a ser proporcionalmente menor à medida que x cresce. Em outras palavras, Bernouilli argumentava que os jogadores estavam menos interessados na recompensa monetária do que na utilidade de tal recompensa. Assumindo a hipótese da utilidade marginal decrescente da renda (antecedendo portanto o pensamento dos economistas marginalistas do século XIX), Bernoulli mostrou que, embora o jogo tivesse um valor esperado do prêmio infinito, tinha um valor esperado finito da utilidade. A hipótese é, portanto, de grande interesse como a primeira tentativa de substituir a maximização da utilidade por algum objetivo de ganhos monetários inferiores num contexto de risco e incerteza. A formulação moderna da Teoria da Utilidade Esperada foi apresentada originalmente por Von Neumann e Oskar Mogestern (1944). Estes autores demonstraram formalmente que as preferências dos indivíduos precisam satisfazer certos requisitos para que possam ser representadas por uma função de utilidade como proposto por Bernoulli. Em essência, eles mostraram que as preferências, entre A e B digamos, deveriam satisfazer os seguintes requisitos: (1) devem ser completas, isto é, será sempre possível dizer se a preferência é por A ou por B), (2) devem ser transitivas (se A é preferível a B e B é preferível a C, então A deveria ser preferível a C), (3) deveriam ser contínuas (se A é preferível a B, então qualquer combinação de A com C, é ainda preferível a B), (4) devem ser independentes (se A é preferível a B, então uma combinação qualquer de A com C deveria ser preferível a uma combinação similar de B com C). Daniel Kahneman e Amos Tversky, em artigo de 1979, ressaltaram que além desses requisitos que a Teoria da Utilidade Esperada impõe sobre as preferências dos indivíduos, existem ainda pressupostos adicionais nos quais a Teoria da Utilidade Esperada e muitas de suas aplicações está baseada. Essencialmente, três princípios. Primeiro, que a utilidade de um prospecto ou aposta é baseada no valor esperado. Segundo, que o modo como a Teoria da Utilidade Esperada postula que o indivíduo julga um prospecto presume que ele compare os potenciais resultados do prospecto com sua riqueza corrente. Terceiro, que aversão a risco é prevalente, significando que um prospecto certo, digamos y, é preferido à qualquer prospecto arriscado cujo valor esperado é y também. Mas, resultados de experimentos adicionais que Kahneman e Tversky conduziram indicavam que tais pressupostos eram violados pelo comportamento das pessoas. Os trabalhos experimentais destes dois autores mostraram aspectos da escolha sob risco dos indivíduos que eram inconsistentes com esses princípios adicionais. Primeiro, o que eles chamam de “Efeito Certeza”, que mostra que os indivíduos tendem a superponderar resultados que são certos. Esse efeito viola o princípio expectacional da Teoria da Utilidade Esperada de acordo com o qual a utilidade dos resultados de um prospecto é ponderada pelas probabilidades tais como apresentadas ao indivíduo. Segundo, o que eles chamam de “Efeito Reflexão”, que mostra que as preferências dos indivíduos entre dois prospectos cujos potenciais prêmios são todos positivos – A é preferível a B, suponhamos – tende a serem revertidas quando os prêmios dos prospectos são levados para o domínio negativo, mantendo-se a mesma magnitude e distribuição de probabilidades – nesse caso, agora, B seria preferível a A. Evidências desse fenômeno têm sido repetidamente observadas em inúmeros estudos experimentais. Por exemplo, embora a maioria das pessoas prefira um ganho certo de R$ 450 ao invés de fazer uma aposta que com 90% de chance paga R$ 500 e 10% de chance de não pagar nada, elas preferem apostar numa loteria na qual eles perdem R$ 500 com 90% de chance ou perdem nada com 10% de chance, do que aceitar uma perda certa de R$ 450. Preferências dessa natureza implicam claramente que as pessoas podem ser ao mesmo tempo tanto avessas quanto amantes do risco, dependendo do domínio dos resultados envolvidos nas apostas (isto é, ganhos ou perdas). Elas são avessas a risco quando os potenciais resultados estão no domínio positivo e amantes do risco quando os resultados estão no domínio negativo. Terceiro, e por fim, o que eles chamam de “Efeito Isolamento”, que mostra que, para fins de simplificação do processo de escolha entre prospectos (apostas), os indivíduos tendem a descartar componentes que são equivalentes entre os prospectos e focar-se nos componentes que são diferentes. Embora esse procedimento economize recursos cognitivos, ele pode gerar escolhas diferentes para o mesmo problema. A razão para tanto é simples e intuitiva: a forma como decompomos os prospectos para então decidir o que é comum entre eles pode ser feita em sequências diferentes, cada uma levando a uma escolha final diferente. Vale ressaltar que esse tipo de efeito é mais provável de ocorrer em problemas envolvendo múltiplos estágios de escolha. Veja também Hipótese de Bernoulli; Paradoxo de Allais; Teoria dos Prospectos.