O mais influente estadista brasileiro do século XX, chefe máximo do movimento trabalhista no país e figura dominante na política do Brasil por 24 anos. Em sua carreira revelou forte propensão pelo autoritarismo, com simpatia pelo fascismo, desenvolvendo um estilo de governo populista e uma política econômica orientada pelo nacionalismo, que chegou a resultar em posições antiimperialistas. Entre outras medidas econômicas, criou o Conselho Nacional de Petróleo, a Companhia Siderúrgica Nacional, com a usina de Volta Redonda, a fábrica Nacional de Motores e a Companhia Vale do Rio Doce; implantou o monopólio estatal de petróleo, com a criação da Petrobras, e a nacionalização da produção de energia elétrica pela Eletrobrás. Também revelou excepcional capacidade para liderar o novo proletariado urbano, fazendo-lhe algumas concessões (o salário mínimo e a ampliação da assistência social) em troca de subordinação a uma legislação sindical inspirada no corporativismo. Iniciou a carreira política em 1909, elegendo-se para a Assembleia Estadual do Rio Grande do Sul, e reelegendo-se em 1913 e 1917, como adepto do Partido Republicano e do governador Borges de Medeiros. Entre 1922 e 1926, foi deputado federal. Procurou conciliar o presidente recém-eleito, Artur Bernardes, e o situacionismo gaúcho, que apoiara Nilo Peçanha. No governo de Washington Luís, ocupou a pasta da Fazenda (1926-1928), deixando-a para concorrer vitoriosamente ao governo do Rio Grande do Sul. Candidato derrotado da Aliança Liberal (ampla coalização de forças oposicionistas contra a oligarquia rural) à Presidência da República, encabeçou a Revolução de 1930, que o levaria ao poder na chefia de um governo provisório. Inicialmente influenciado pelo tenentismo, anistiou todos os civis e militares envolvidos em movimentos revolucionários desde 1922 até 1930. Criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em cuja área foram tomadas medidas significativas: a formação dos institutos de aposentadoria, a instituição de assistência médica e hospitalar aos trabalhadores, a regulamentação dos contratos de trabalho, a fixação dos horários de serviço, a garantia de estabilidade após dez anos de emprego e as férias remuneradas. Essas inovações lhe garantiram amplo apoio popular, embora em várias ocasiões, até 1945, seu governo tenha reprimido brutalmente as oposições. Enfrentou em seguida a Revolução Constitucionalista de 1932 e governou por decreto até 1934, quando o congresso recém-eleito aprovou a segunda Constituição republicana (que ampliava a área de atuação do Estado, mas mantinha um equilíbrio entre os três poderes) e o confirmou na presidência para um mandato de mais quatro anos. Em 1935, esmagou a chamada Intentona Comunista, uma rebelião de esquerda promovida pela Aliança Libertadora Nacional. O fato serviu de pretexto para a decretação de estado de sítio. Em 1937, fechou o Congresso, desencadeando o golpe de Estado que o fez ditador, instituindo o Estado Novo, que seria derrubado somente em 1945. Durante o Estado Novo, investido de poderes especiais, extinguiu todos os partidos políticos e dedicou-se a neutralizar e submeter sob seu comando as oligarquias estaduais. Suspendeu o pagamento da dívida externa até 1940, para recuperar a economia; aboliu o imposto interestadual, que impedia a formação do mercado interno; e estabeleceu o salário mínimo obrigatório no país, com diferentes níveis regionais. Em 1943, anunciou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Nesse período, Vargas obteve financiamento norte-americano para seus grandes projetos econômicos. Elaborou um plano econômico quinquenal, em 1940, que previa a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda (financiada pelo Import-Export Bank, dos Estados Unidos), da Hidrelétrica de Paulo Afonso, além da compra de navios para o Lloyd Brasileiro e de equipamentos militares e a instalação da Fábrica Nacional de Motores. Com esses planos econômicos e com a descoberta de petróleo na Bahia, em 1939, por técnicos contratados pelo governo, seu prestígio cresceu. Em troca de apoio financeiro e técnico, Vargas negociou acordos com os Estados Unidos para fornecimento de matérias-primas estratégicas, permitindo a instalação de bases militares no Nordeste. Em 1943, conseguiu a transferência das minas de ferro de propriedade inglesa para o governo brasileiro, criando a Companhia Vale do Rio Doce. Com o crescimento da oposição interna a seu governo, Vargas procurou justificar a manutenção de seus poderes ditatoriais em função da guerra, prometendo o restabelecimento da democracia quando o conflito terminasse. Em 1945, promoveu a formação de dois partidos, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrático (PSD), o primeiro destinado a neutralizar as esquerdas e defender a política trabalhista legada pelo Estado Novo. Com a redemocratização e o confronto aberto entre as forças políticas, em outubro de 1945, foi forçado a renunciar por um movimento militar que o acusava de preparar novo golpe para permanecer no poder, com a ajuda do PTB e dos comunistas. Nas eleições de dezembro de 1945, elegeu-se para o Senado por São Paulo e Rio Grande do Sul, escolhendo o mandato por seu Estado; e seu candidato à presidência da República, Eurico Gaspar Dutra, saiu vitorioso. Concorreu à presidência pelo PTB, em 1950, e obteve ampla vitória sobre o mandato da União Democrática Nacional (UDN), brigadeiro Eduardo Gomes. Condenou a política econômica do governo Dutra e prometeu acelerar a industrialização, retomando a orientação nacionalista do Estado Novo. Na política desenvolvimentista que caracterizaria seu último mandato, o planejamento dos investimentos foi incentivado pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico, que funcionou de 1951 a 1953 e levou à criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE). Vargas anunciou um plano quinquenal que previa a aplicação de US$ 1 bilhão em investimentos de infraestrutura. Adotou uma política cambial flexível, procurando incentivar as importações necessárias à industrialização, facilitar certos investimentos estrangeiros e aumentar a competitividade das exportações. Chamado de “protetor dos trustes estrangeiros” pelas medidas econômicas enquadradas no sistema financeiro internacional, Vargas procurou ao mesmo tempo promover a industrialização, enfatizando o apelo nacionalista. Assim, em 1953, depois de grande agitação nacionalista, criou a Petrobras, estabelecendo o monopólio estatal na extração e refinação de petróleo, permitindo apenas que as refinarias já existentes continuassem a operar em limites estabelecidos pelo governo. Em 1954, apresentou o projeto de criação da Eletrobrás, empresa estatal de energia elétrica destinada a complementar a iniciativa privada. Forçado pelo desequilíbrio do balanço de pagamentos, também denunciou como excessivas remessas de lucros para o exterior pelas empresas estrangeiras, decretando, em 1952, que os 8% de remessa de lucros permitidos por lei seriam calculados sobre o capital originalmente investido no país, e não sobre os lucros reinvestidos. O último mandato de Vargas caracterizou-se também por elevados índices de inflação, escândalos administrativos e cerrada oposição conservadora de setores civis e militares. A oposição, centrada na UDN, já tinha tentado impedir sua posse, sob o argumento de que ele pretendia instalar uma nova ditadura. A intensificação da Guerra Fria no plano internacional reforçava os argumentos oposicionistas, que procuravam interpretar o nacionalismo de Vargas como uma oposição aberta aos Estados Unidos. O debate entre nacionalistas e conservadores intensificou- se a ponto de provocar a renúncia, em 1952, do ministro da Guerra, Estillac Leal. A oposição concentrou em seguida seus ataques ao novo ministro do Trabalho, João Goulart, acusando-o de pretender a criação de um regime sindicalista do tipo peronista. Em 1953, o novo governo dos Estados Unidos decidiu dissolver a Comissão Mista com o Brasil. A alta dos preços do café chegou a motivar a implantação de uma comissão investigadora do Senado norte-americano e uma rejeição sistemática à compra do produto brasileiro. Em dezembro de 1953, Vargas afirma que seus planos de criação da Petrobras estavam sendo sabotados por empresas estrangeiras. E, num pronunciamento em janeiro de 1954, acusou as empresas estrangeiras de cometer fraudes no faturamento das exportações, para acobertar remessas ilegais de lucros. A situação política logo se deteriorou, com a inflação pressionando o nível de vida da classe média. Um memorial assinado por coronéis e enviado ao Ministério da Guerra, protestando contra os baixos salários dos oficiais, foi intensamente explorado pela imprensa, provocando uma crise política. Num isolamento político crescente, um inquérito promovido pela aeronáutica provou o envolvimento do chefe da guarda de Vargas num atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, que liderava violentos ataques ao governo, precipitando a crise final. Diante de uma exigência de renúncia formulada pela Forças Armadas, Vargas suicidou-se no dia 24/8/1954, deixando uma carta-testamento em que denuncia vagamente as “forças e os interesses contra o povo”. Seu estilo de governo, de caráter populista, procurando o apoio dos trabalhadores, deixou profundas marcas na política brasileira. A força do getulismo iria se manifestar um ano depois de sua morte, com a eleição do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que venceu os partidos de oposição a Vargas. O herdeiro político de Getulio, João Goulart, foi eleito vice-presidente por duas vezes, e assumiu a presidência em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, sendo derrubado em 1964.