Curva J – linha de tendência, em um gráfico, que começa com uma queda acentuada e é seguida por ganho dramático ou vice-versa. O nome “Curva J” tem origem no formato do gráfico.
Termo correspondente em inglês – J-Curve.
Veja também – Balanço de Pagamentos.
Afinal, o que é Curva J?
A Curva J é um conceito utilizado em diversas áreas, como engenharia, estatística e economia¹, para descrever um padrão de comportamento gráfico em que uma variável aumenta ou diminui de forma gradual e depois acelera rapidamente.
Formando assim, a figura de “J” em maiúsculo.
Em engenharia, por exemplo, a Curva J é frequentemente usada para descrever o comportamento de materiais sobre tensão, enquanto na economia ela pode representar o desenvolvimento seguido por uma depressão – representado matematicamente por um “J” de cabeça para baixo.
Mas também pode representar o crescimento de uma empresa ou mercado.
O efeito da Curva J é frequentemente citado na economia para descrever, por exemplo, a forma como a balança comercial de um país inicialmente piora após uma desvalorização de sua moeda, depois recupera rapidamente e finalmente ultrapassa o seu desempenho anterior.
A Curva J é observada em outros campos, incluindo medicina e ciência política, além dos citados acima. Em cada caso, representa uma perda inicial seguida de um ganho significativo até um nível que exceda o ponto inicial.
Entendendo a Curva J na Ciência Política
Na ciência política, a Curva J, também conhecida como “J-Curve” ou “Davies J-Curve” e parte de um modelo matemático estudado por James Davies Chowning – um cientista político e sociólogo norte-americano para tentar explicar as revoluções políticas.
Davies afirmava que as revoluções são uma resposta a uma súbita inversão na riqueza após um longo período de crescimento econômico, que é conhecido como privação relativa.
Privação relativa é a falta de recursos para suster-se, manter o estilo de vida, as atividades e as comodidades a quem um indivíduo ou grupo está habituado ou que são amplamente incentivados ou aprovados na sociedade a que pertencem.
A teoria da privação relativa afirma que as expectativas frustradas pode gerar revolta entre outros fatores, como níveis crescentes de desigualdade dentro de um país, o que pode significar que aqueles que são cada vez mais pobres em relação ao ricos estão a receber menos do que esperam, elevando as expectativas gerais, seguido de uma crise.
Comumente usado para explicar a agitação social e política e os esforços dos governos para contê-la, a Curva J de Davies, representa o desenvolvimento econômico seguido por uma depressão como um “J” invertido e ligeiramente distorcido.
A Curva J na Economia
Em Economia, a Curva J é a trajetória temporal da balança comercial de um país após uma desvalorização ou depreciação da sua moeda, sob um determinado conjunto de pressupostos. O padrão é o seguinte:
Imediatamente após a desvalorização da moeda de um país, as importações tornam-se mais caras e as exportações mais baratas, resultando em um agravamento do déficit comercial.
Logo após, no entanto, o país obterá um superávit, graças aos seus preços relativamente mais baratos.
Se colocarmos o resultado da balança comercial no eixo y e o tempo no eixo x, o gráfico mostrará um déficit inicial para ser rapidamente transformado em superávit, na medida em que os efeitos da desvalorização cambial se generalizam.
Este fenômeno deve-se ao fato de que a resposta das importações à mudança nos preços relativos não se processa imediatamente, resultando em déficits nos primeiros momentos depois da desvalorização. No caso brasileiro, as desvalorizações cambiais têm sido seguidas de expressivos superávits na balança comercial, mas só em casos esporádicos de um superávit em conta corrente.
Quando a moeda de um país se valoriza, os economistas observam que pode ocorrer uma Curva J reversa. As exportações do país tornam-se abruptamente mais caras para os países importadores. Se outros países conseguirem satisfazer a procura por um preço mais baixo, a moeda mais forte reduzirá a sua competitividade nas exportações. Os consumidores locais também podem optar pelas importações, pois estas se tornaram mais competitivas em relação aos produtos produzidos localmente.
O uso da Curva J em Finanças
Em Finanças, a Curva J é usada para ilustrar a tendência histórica de private equities de entregar retornos negativos nos primeiros anos e ganhos de investimento nos anos subsequentes, à medida que as carteiras das empresas amadurecem.
Nos primeiros anos do fundo, vários são os fatores que contribuem para retornos negativos, incluindo custos de investimento; receitas aquém do esperado e investimentos com baixo desempenho que são identificados precocemente e amortizados. Com o tempo, o fundo começará a registar ganhos não realizados, seguidos eventualmente por eventos em que os ganhos serão realizados (por exemplo, IPOs , fusões e aquisições, recapitalizações alavancadas).
Hopes (iniciantes) – empresas que ainda não demonstraram capacidade de geração de caixa. Ao plotar o seu histórico, não se identifica a possibilidade de reverter a situação no curto prazo, ou seja, ainda está no começo do J. Empresas como Uber, Okta e Twilio servem de exemplo.
Strugglers (batalhadores) – empresas que, embora no acumulado ainda não apresentam uma operação que atingiu o breakeven, mas demonstram os primeiros resultados de geração de caixa. Servicenow e Tesla são empresas que se encaixam nesse grupo.
Winners (vencedores) – empresas que já atingiram o breakeven da sua operação e estão em um momento de geração e acúmulo constante de caixa operacional. Amazon e Salesforce são exemplos emblemáticos desse grupo.
Pivot, Plateau & Perpetuity – após um determinado período, identificamos que algumas empresas demonstram uma estagnação na capacidade de geração de caixa, que acaba forçando-as a pivotarem seu modelo (ou parte do seu modelo) de negócios para sair dessa estagnação e atingir um crescimento perpétuo. Cases tradicionais como Microsoft e Google, como empresas que atingiram esse patamar de perpetuidade, se tornando empresas que atravessaram todo o J.
Quanto mais inclinada for a parte positiva da curva J, mais rápido o dinheiro será devolvido aos investidores.
Curva J, no modelo de Bremmer
Outra “Curva J” refere-se à correlação entre estabilidade e abertura. Esta teoria foi sugerida inicialmente pelo autor Ian Bremmer, em seu livro The J Curve: A New Way to Understanding Why Nations Rise and Fall .
O eixo x no gráfico da Curva J mede a “abertura” da economia em questão e o eixo y mede a estabilidade desse mesmo estado. Assim, a teoria de Bremmer sugere que os estados “fechados”, “antidemocráticos” ou “não livres” (como as ditaduras comunistas da Coreia do Norte e de Cuba ) são muito estáveis.
No entanto, à medida que se avança para a direita, ao longo do eixo x, é evidente que a estabilidade (por um período de tempo relativamente curto, na longa vida das nações) diminui, criando uma queda no gráfico, até começar a subir novamente com a abertura de um Estado.
Na outra extremidade do gráfico, em relação aos estados fechados, estão os estados “abertos”, “livres” e “democráticos” do Ocidente, como os Estados Unidos da América ou o Reino Unido. Assim, uma curva em forma de “J” é formada.
Os Estados podem avançar tanto para a frente (direita) como para trás (esquerda) ao longo da Curva J e, portanto, a estabilidade e a abertura nunca são seguras.
O “J” é mais acentuado no lado esquerdo, pois é mais fácil para um líder num Estado falido criar estabilidade fechando o país do que construir uma sociedade civil e estabelecer instituições responsáveis. A curva é mais alta na extrema direita do que na esquerda porque os estados que prevalecem da abertura das suas sociedades (Europa Oriental, por exemplo) acabam por se tornar mais estáveis do que os regimes autoritários.
¹ Entende-se por “Economia” nesse caso, as Finanças de uma empresa e Economia, propriamente dita.
Voltar para o dicionário (página inicial).
Comunicar erros
Achou algo errado? Avise-nos deixando uma mensagem aqui nos comentários ou usando esse formulário.
Fontes de pesquisa e de referência
Para produzir esse conteúdo tivemos a ajuda dos seguintes autor(es) e publicações:
- BREMMER, Ian. The J Curve: A New Way to Understanding Why Nations Rise and Fall. New York: Simon & Schuster, 2006
- DAVIES, James Chowning. When Men Revolt and Why – A Reader in Political Violence and Revolution. New York: The Free Press, 1971. Disponível em: <https://www.google.com.br/books/edition/When_Men_Revolt_and_Why/bm3VNPlOTQoC?gbpv=1>. Acesso em: 11 mar 2024.
- DAVIES, James Chowning. Human Nature in Politics – The Dynamics of Political Behavior. New York: John Wiley and Sons, Inc., 1963.
- Como o conceito de J-Curve pode ajudar a analisar empresas tech? Newtow Found. 7 jul 2021. Disponível em: <https://www.newtonfund.com.br/post/como-o-conceito-de-j-curve-pode-ajudar-a-analisar-empresas-tech>. Acesso em 11 mar 2024.
- KENTON, Will. Curva J: Definição e Usos em Economia e Private Equity. Investopedia, 23 dez 2020. Disponível em: <https://www.investopedia.com/terms/j/j-curve-effect.asp>. Acesso em: 11 mar 2024.
- MAIS RETORNO. Curva J. Glossário de Finanças e Investimentos, 5 nov 2020. Disponível em: <https://maisretorno.com/portal/termos/c/curva-j>. Acesso em: 11 mar 2023.
Como citar esse artigo em seus trabalhos
Curva J. In: Dificio – seu dicionário on-line de finanças, investimentos e contabilidade, 2021. Disponível em: <https://www.dificio.com.br/curva-j>. Acesso em: dia, mês e ano.