Ilusão monetária – 1) dificuldade em perceber que o valor de uma moeda aumenta ou diminuí; 2) tendência das pessoas em pensar na moeda em termos nominais, em vez de reais.
Termo correspondente em inglês – money illusion.
Veja também – correção monetária, Economia Monetária, Finanças Comportamentais, inflação, juros reais, juros nominais, taxa de juros e viés.
Afinal, o que é Ilusão Monetária?
Em Economia, Ilusão monetária ou ilusão de preços refere-se normalmente à tendência que os agentes econômicos têm (em particular as famílias) para pensarem no valor da moeda em termos nominais e não em termos reais.
Por outras palavras, os agentes econômicos tendem a confundir o valor facial (ou nominal) da moeda com o seu poder de compra (o seu real valor) considerando os níveis de preços (incluindo os salários) registados num dado momento no passado. Confuso?
Calma! Vamos explicar!
Antes de começar a explicar o que é ilusão monetária, vamos relembrar dois conceitos importantíssimos e que se relacionam diretamente com o tema, valor real e o valor nominal (ou aparente).
Enquanto o valor nominal refere-se ao valor expresso no dinheiro (R$1; $5 ou €10), o valor real é aquele relacionado ao poder de compra que aquela (quantidade de) moeda garante ao seu proprietário.
Assim sendo, imagine que seu salário aumentasse (valor nominal), mas o novo valor não compra as mesmas coisas que o anterior comprava, devido à desvalorização do dinheiro (valor real), dado pelo aumento da inflação. Mesmo perdendo, você teria um sentimento de ganho.
Esse sentimento é o que chamamos de ilusão monetária!
Como funciona a Ilusão Monetária?
A ilusão é ocasionada pelo apego aos termos nominais e o descarte dos reais.
A maneira mais simples de explicar como funciona a ilusão monetária é através de um exemplo. Usando-se do caso acima, é fácil perceber a variação de valor se antes você recebia $100 e agora recebe $150, há um acréscimo claro de $50 (ou de 50%).
Não há dificuldade nenhuma em perceber isso, porém a percepção real pode se mostrar mais difícil de se absorver. As variações reais (ou do valor real) não dependem de se ter mais ou menos dinheiro, mas de outros fatores – como por exemplo, a variação de preço dos produtos e o nível de endividamento do indivíduo – que determinam o que e quanto é possível comprar com esse mesmo dinheiro.
Vejamos então!
Imagine que você recebia mensalmente um salário mensal de $100 e seus custos mensais são de $90. Sobrando-lhe $10 por mês. No mês seguinte, você recebe um aumento de 10% e passa a ganhar $110.
Porém, nesse mesmo período houve um aumento de 13,3% na inflação.
Dessa forma, as mesmas despesas que você possuía antes, agora totalizam $102 mensais. Repare que anteriormente você possuía um poder de poupança de $10 e mesmo com o aumento, seu poder de poupança caiu para $8.
Assim se você tivesse que escolher um entre os dois cenários acima, qual você escolheria? O primeiro cenário com salário de $100 sem o aumento ou o segundo cenário com o aumento de 10% sobre seu salário, onde você passaria a ganhar $110?
A maioria das pessoas optam pelo segundo cenário, ou seja, receber um salário dez por cento maior, mesmo com uma inflação de 13,3%. Psicologicamente, isso lhe deixaria mais feliz pelo simples fato de estar recebendo mais.
Se o aumento recebido no salário fosse na mesma proporção do aumento da inflação, seu poder de compra e sua capacidade de poupança seriam preservados.
E assim, não haveria razão para escolhas, tampouco a ilusão monetária.
A ilusão monetária então pode ser definida como sendo um viés psicológico em que as pessoas tendem a avaliar as questões econômicas privilegiando o valor nominal da moeda, em detrimento de seu valor real.
Ilusão monetária e inflação
A inflação é, sem dúvida alguma, o maior causador da ilusão de preços! Alta ou baixa, é difícil perceber seus impactos, de imediato, nos ganhos nominais.
A equipe do Mais Retorno traz um exemplo bastante elucidativo, vejamos:
Em 2009, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), moradores da capital paulista precisavam de R$ 228,19 para comprar todos os itens de uma cesta básica. Ou seja, alguém que ganhasse R$912,76 naquela época precisavam separar apenas 25% do seu orçamento para esse tipo de compra.
No entanto, em 2019 o custo para se adquirir os mesmos itens subiu para R$509,11, segundo a mesma DIEESE. Um aumento de 123%! Aquela pessoa que antes destinava 25% do salário à cesta básica, se manteve o mesmo salário de 2009, compromete hoje 55,77% dos seus ganhos.
Pense bem: o salário nominal dela não mudou (continua os mesmos R$912,76). No entanto, o que ela compra com essa quantia já não é o mesmo. O que houve então é uma mudança no seu salário real, uma defasagem.
A importância de uma moeda forte
É apenas quando se realmente entende o funcionamento do sistema de preços no livre mercado, que se entende quão crucial é não ter uma moeda sólida.
A Ilusão monetária e o Mercado Financeiro
A ilusão monetária também pode ser aplicada ao mercado financeiro, em geral. Instituições financeiras oferecem uma quantidade imensa de produtos de investimento com base no ganho nominal e não o ganho real. Assim é a Caderneta de Poupança que há anos rende bem menos que a inflação.
Considere o exemplo hipotético a seguir – Sr. Antonio aplicou $1.000,00 em um título de renda fixa e espera receber ao final de um ano $1.125,00. Um rendimento de $125. A taxa de juros nominal desse investimento é de 12,5% ao ano. No entanto, a economia passa por um período crítico e a inflação medida naquele mesmo ano é de 6,5%. Dessa forma, Sr. Antonio terá um ganho real de 6%.
Pois o que ele comprava antes com $125, agora não compra mais.
Origem do termo Ilusão Monetária
O termo foi cunhado por John Maynard Keynes (1883-1946), no início do século XX, segundo Wikipedia. Mas somente ganhou notoriedade com outro economista, Irving Fisher.
O termo Ilusão Monetária aparece pela primeira vez, pelas mãos de Irving Fischer, no livro “Stabilizing the Dollar” de sua autoria, em 1920.
Oito anos depois, em 1928, Irving Fischer publica “A Ilusão do Dinheiro” (The Money Illusion, em inglês). Um livro totalmente dedicado ao tema e escrito pelo principal economista neoclássico norte-americano da época.
Daí em diante, o tema tem sido objeto de estudo de pesquisadores das mais diversas áreas, entre eles Rothschild (1965); Akerlof (1987); Safir, Diamond e Tversky (1997) e Fehr e Tyran (2001).
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Fontes de pesquisa e de referência
Para produzir esse conteúdo tivemos a ajuda dos seguintes autor(es) e publicações:
- D’ANDRÉA, Gabriella. Fique atento ao ganho real e não tenha ilusões monetárias, diz economista. Infomoney, 25 set 2012. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/onde-investir/fique-atento-ao-ganho-real-e-nao-tenha-ilusoes-monetarias-diz-economista/>. Acesso em: 7 jun 2023.
- FISHER, Irving. Stabilizing the Dollar. 1. ed. New York : The Macmillan Company, 1920. Disponível em: < https://fraser.stlouisfed.org/files/docs/publications/books/stabilizing_fisher.pdf>. Acesso em: 13 maio 2023.
- FISHER, Irving. The Money Illusion. 1.ed. New York : Adelphy Company, 1928. Acesso em: < https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=mdp.39015020847706&view=1up&seq=7>. Acesso em: 13 maio 2023.
- FEHR, Ernst & TYRAN, Jean-Robert. “Does Money Illusion Matter?” American Economic Review, 91 (5): 1239-1262. Disponível em: <https://www.aeaweb.org/articles?id=10.1257> Acesso em: 13 maio 2023.
- MAIS RETORNO. Ilusão Monetária. Glossário de Finanças e Investimentos, 18 set. 2019. Disponível em: <https://maisretorno.com/portal/termos/i/ilusao-monetaria>. Acesso em 18 maio 2023.
- REISMAN, George. É só quando se entende o sistema de preços que se percebe a importância da moeda sólida. Mises Brasil, 30 set. 2022. Disponível em: <https://mises.org.br/article/3401/e-so-quando-se-entende-o-sistema-de-precos-que-se-percebe-a-importancia-de-uma-moeda-solida> Acesso em: 18 maio 2023.
- ROTHSCHILD, Kurt W. “Illusions about money illusion?” The Journal of Political Economy, v. 73, n. 3, p. 298-299, 1965.
Como citar esse artigo em seus trabalhos
Ilusão Monetária. In: Dificio – seu dicionário on-line de finanças, investimentos e contabilidade, 2023. Disponível em: <https://www.dificio.com.br/ilusao-monetaria>. Acesso em: dia, mês e ano.
