Muhammad Yunus – economista e banqueiro. Fundador do Grameen Bank – instituição criada para a concessão de microcréditos a pessoas de baixa renda. Em 2006, foi Ganhador do Prêmio Nobel da Paz.
Termo correspondente em inglês – Muhammad Yunus
Veja também – Grammem Bank, Banco dos Pobres e Microcrédito.
Afinal, quem é Muhammad Yunus?
Muhammad Yunus nasceu na aldeia de Bathua em Bangladesh, no dia 28 de junho de 1940. Durante seus anos escolares, ele foi um escoteiro ativo e viajou para o Paquistão e Índia em 1952. Também embarcou para a Europa, Estados Unidos e Canadá, anos depois, em 1955, e para as Filipinas e Japão, em 1959, para participar de acampamentos chamados de Jamborees.
Em seu país de origem, Yunus ingressou na Universidade de Dhaka. Após receber uma bolsa para estudar economia nos Estados Unidos, ele se mudou e iniciou seus estudos na Universidade Vanderbilt.
Em 1969, Muhammad Yunus se tornou PhD. No ano seguinte, virou professor assistente da disciplina na Middle Tennessee State University.
Mas algo o incomodava! Mesmo com a grandeza das universidades, era raro que pesquisadores do campo da economia se dedicassem a projetos que visavam combater a pobreza e mudar o sistema econômico que ele interpretava como prejudicial a grande parte da população.
A criação do Grameen Bank
Na década seguinte, o economista deu os primeiros passos rumo ao trabalho que o consagraria no mundo todo. De volta a Bangladesh, ele trabalhou em projetos com o objetivo de reduzir a pobreza e a fome no país.
A princípio, ele se envolveu no Programa de Economia Rural e, trabalhando em fazendas compartilhadas, Yunus entendeu a importância dos empréstimos bancários para populações carentes.
Yunus via pessoas de comunidades extremamente pobres fazendo o empréstimo de quantidades mínimas em bancos tradicionais. Elas usavam o dinheiro para comprar bambu a fim de garantir a matéria-prima para fazer trabalhos artesanais.
Como precisavam apresentar garantias e pagar os juros aos bancos, as artesãs não lucravam com suas atividades.
Muhammad decidiu então tomar uma atitude – ele tirou US$ 27 do próprio bolso e entregou a um grupo de mulheres. Foi ali que, pela primeira vez, ele viu uma quantidade emprestada dar resultados positivos.
Ele também se deu conta de que os empréstimos não precisavam ser valores exorbitantes. Muito pelo contrário – na verdade, valores mínimos já faziam toda a diferença.
Pensando nisso, em 1983, o professor fundou o primeiro banco do mundo especializado em microcrédito, chamado Grameen Bank.
Além do acesso ao dinheiro, Muhammad Yunus percebeu que também era necessário ensinar àquela população em como lidar com as quantias recebidas. Por esse motivo, ele ainda se dispôs a lecionar princípios financeiros para que os clientes do banco pudessem alcançar a independência e gestão próprias do empréstimo.
Por conta deste projeto, Yunus é conhecido no mundo todo pelo apelido de “banqueiro mundial para os pobres”.
Até hoje, o Grameen Bank continua sendo uma das instituições de microcrédito mais relevantes do mundo. Em 2019, por exemplo, a Forbes o considerou como uma das cinco empresas mais inovadoras e de maior impacto social do ano.
Como funciona a concessão de créditos do Grameen Bank?
Um fato interessante é que, desde sua criação, cerca de 97% do público beneficiado pelo banco de Muhammad Yunus são mulheres indianas. Criadas sob um sistema opressivo, os microcréditos auxiliam para que elas possam obter sua independência financeira.
Funciona mais ou menos assim – essas mulheres formam grupos de cinco. As duas mais pobres entre elas recebem o primeiro crédito. Quando elas começam a fazer a devolução do dinheiro, as outras três podem ter acesso às suas partes.
O banco ainda não exige garantias e nem cobra taxas das pessoas beneficiadas.
O trabalho deu tão certo que, hoje em dia, o banco fundado por Yunus tem mais de 2500 agências e, só na Índia, atende a mais de 80 mil aldeias.
Outro número que impressiona é o de inadimplentes, mas de forma positiva. O Grameen é um dos bancos com menor inadimplência do mundo – menos de 1% sobre o total de empréstimos.
O impacto de Muhammad Yunus no Brasil
O projeto criado pelo economista não ficou restrito à Índia. Aqui no Brasil, o braço da Yunus Social Business Global Initiatives é a Yunus Negócios Sociais, fundada em 2013.
Em 2017 foi iniciado o projeto AMA, parceria com a Ambev. O intuito do AMA era levar água para comunidades localizadas no semiárido brasileiro e que tinham dificuldade de encontrar água potável para as necessidades fundamentais do dia a dia.
Já o projeto “Meu Chapa” trabalha com demandas de empresas na área de logística. A contratação dos “chapas” garante redução de custos para os contratantes, gera empregos e oferece segurança às mercadorias e ao processo de carga e descarga.
Atualmente, a iniciativa já reúne mais de 1800 “chapas” em todo o Brasil. Segundo uma pesquisa divulgada pela Yunus Negócios Sociais, 93% deles comprovam o aumento de renda por meio do projeto.
Muhammad Yunus como empreendedor social
A idealização e o fomento a projetos como estes fazem do bangalês um empreendedor social. Na verdade, ele é mais do que isso, Yunus é considerado o pai do empreendedorismo social. Mas o que caracteriza alguém com este perfil?
Os empreendedores sociais são aqueles que buscam organizar recursos financeiros do setor público e privado a fim de alimentar projetos e ideias que trarão mudanças efetivas na sociedade.
Um exemplo claro é o de comparar projetos como o Grameen Bank a iniciativas pontuais. Se um grupo de voluntários sai às ruas no período da noite para distribuir marmitas para pessoas em situação de rua, elas estarão combatendo um problema pontual, que é a fome naquela refeição.
No dia seguinte, as pessoas estarão com fome de novo. Se os voluntários não retornarem, o problema persistirá.
Agora, se os mesmos voluntários criarem um espaço onde oferecem três refeições diárias para os assistidos, aí sim será um problema solucionado a longo prazo. Essas pessoas, quando melhor alimentadas, têm a saúde beneficiada, podem largar vícios, entre outras vantagens.
Agora, imagine que o grupo de voluntários faça um trabalho filantrópico que permita que as pessoas em situação de vulnerabilidade tenham onde morar, possam fazer suas próprias refeições e tenham acesso a cursos profissionalizantes.
Um projeto como este pode inseri-las no mercado de trabalho, garante renda, faz a economia girar, diminui o número de pessoas em situação de rua e, aos poucos, diminui a pobreza e a miséria.
Este, como um trabalho que promove mudanças efetivas, pode ser considerado uma iniciativa ligada aos princípios do empreendedorismo social.
Muito além do dinheiro
Todos os projetos ligados ao trabalho de Yunus vão além da condição econômica de famílias pobres. O impacto da pobreza e da desigualdade social também reflete na geração de empregos, na educação e na sustentabilidade do planeta.
Pensando nisso, Yunus lançou um livro chamado “A World of Three Zeros” (Um mundo de três zeros, em português). Nele, o professor explica os três pilares que considera indispensáveis para remodelar o sistema e garantir uma nova economia: zero pobreza; zero desemprego e zero emissões líquidas de carbono.
O empecilho, como diz o próprio Muhammad Yunus à BBC, “é que somos muito preguiçosos e estamos muito confortáveis no sistema que temos, não queremos sair da nossa zona de conforto”.
Reconhecimento internacional e prêmios
O professor Muhammad Yunus é um exímio colecionador de prêmios em sua carreira. São mais de 112 em 26 países, incluindo 50 títulos Honoris Causa por universidades e até mesmo 10 honras de Estado.
Um dos mais importantes deles foi o recebido em 2006, quando Yunus recebeu o Prêmio Nobel da Paz. O título foi atribuído em conjunto ao seu projeto de maior notoriedade, o Grameen Bank.
Segundo o veredito do comitê que justificou a premiação naquele ano, “a paz duradoura não pode ser obtida sem abrir um caminho para que uma ampla parte da população saia da pobreza”. A escolha também foi encarada como uma afronta ao neoliberalismo econômico.
No mesmo ano, a revista Time o apontou como um dos 12 maiores líderes empresariais do mundo.
Dois anos depois, em 2008, o professor entrou para a lista da revista britânica Prospect em parceria com a estadunidense Foreign Policy. Ele ficou em segundo lugar no Top 100 intelectuais do mundo.
Fechando a década, Muhammad Yunus foi indicado como uma das 50 figuras mais influentes do mundo pela The New Statesman (Inglaterra), em 2010.
Louro Olímpico em Tóquio
Em 2021, Muhammad Yunus foi contemplado com mais um prêmio de grande importância: o Louro Olímpico.
Ele recebeu a homenagem do próprio Comitê Olímpico Internacional (COI). O título é voltado para “àqueles que promoveram grandes realizações na educação, cultura, desenvolvimento, e na paz por meio do esporte”.
O projeto da vez, que mereceu o reconhecimento, foi a organização social “Yunus Sports Hub”. Este busca ampliar as iniciativas esportivas voltadas às pessoas mais pobres do mundo.
No mundo esportivo, o professor já havia estado sob os holofotes na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, quando afirmou que, “no esporte, os negócios sociais têm uma oportunidade única para iniciar a mudança”.
A pandemia e a concentração de riquezas segundo Muhammad Yunus
O banqueiro, que também é ativista, defendeu que “o coronavírus nos levou a um abismo necessário para mudar o mundo e não voltar atrás”, em entrevista concedida à BBC.
Segundo Yunus, a pandemia escancarou as falhas do capitalismo e disse ainda que precisamos mudar o sistema econômico em que vivemos. Dessa forma, é possível dar valor ao altruísmo.
A saída, nas palavras dele, é “não retornar ao mundo de antes, mas criar um novo”.
O resultado de quase 40 anos de trabalho
O impacto da concessão de microcréditos a famílias pobres da Índia é imensurável. As estatísticas do país apontam que a miséria acometia 71% da população antes da criação do programa, em 1971. Em 2017, apenas 23% dos cidadãos estavam nessas condições.
Pensar em projetos de combate à desigualdade social, como os do economista Muhammad Yunus, é um desafio. Um relatório da organização não governamental Oxfam de 2019, indicou que os 26 mais ricos do mundo detêm a mesma riqueza de metade das pessoas mais pobres, isto é, 3,8 bilhões de cidadãos.
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Fontes de pesquisa e de referência
Para produzir esse conteúdo tivemos a ajuda dos seguintes autor(es) e publicações:
- YUNUS, Muhammad & JOLIS, Alan. O Banqueiro dos Pobres. A evolução do microcrédito que ajudou os pobres. 1. ed. São Paulo : Ática, 2000. [baixe aqui]
- YUNUS, Muhammad. Criando um negócio social. 1. ed. Rio de Janeiro : Elsevier, 2010. [baixe aqui]
Como citar esse artigo em seus trabalhos
Muhammad Yunus. In: Dificio – seu dicionário on-line de finanças, investimentos e contabilidade, 2021. Disponível em: <https://www.dificio.com.br/muhammad-yunus>. Acesso em: dia, mês e ano.