Douglass North nasceu em Cambridge, Massachusetts, em 1920. Na infância, mudou-se com seus pais para a Suíça, retornando aos Estados Unidos em 1933. Frequentou colégios em Nova York e Connecticut e finalmente se estabeleceu na Califórnia para cursar a graduação em Berkeley. Diplomou-se em filosofia, ciência política e economia. Durante a Segunda Guerra Mundial trabalhou na Marinha Mercante para fugir do alistamento, fato que contribuiu enormemente para suas leituras na área de economia. Ao regressar aos Estados Unidos, fez pós-graduação em Berkeley, tendo sofrido forte influência do irmão de Frank Knight, que acabou orientando seu trabalho de tese sobre a história da indústria de seguros de vida nos Estados Unidos. Durante pesquisa de campo da tese, passou um ano na Costa Leste, onde teve oportunidade de frequentar os cursos do professor Robert Merton na Universidade de Columbia e diversas disciplinas em Harvard, sendo influenciado por Joseph Schumpeter. Mais adiante, passou a se interessar pelo tema do crescimento econômico regional, fazendo pesquisas que resultaram em um texto ainda hoje muito citado: “Location Theory and Regional Economic Growth”. Por conta desses trabalhos, foi convidado em 1956 a passar um ano no National Bureau of Economic Research, onde conheceu Simon Kuznets, entre outros. Trabalhou com Kuznets nas estimativas empíricas de um grande estudo sobre o comportamento do balanço de pagamentos americano de 1790 a 1860, que daria origem ao seu primeiro livro: The Economic Growth of the United States from 1790 to 1860. No início dos anos 60, juntou-se ao chamado grupo dos cliometristas, do qual faziam parte economistas como Lance Davis, Robert Fogel, Anna Schwartz, Walt Rostow e Alexander Gerschenkron. Ao aplicar métodos quantitativos e insights da teoria econômica no estudo da história, esse grupo de economistas americanos fundou o que ficou conhecido na literatura como cliometria ou ainda a nova história econômica. Na segunda metade da década de 60, North passou a se dedicar à história da Europa, morando em Genebra durante um ano. Nesse período, seu interesse pelo estudo das instituições já começava a aparecer, merecendo destaque dois de seus livros sobre o tema: Institutional Change and American Economic Growth, escrito em coautoria com Lance Davis em 1971 e que faz uma leitura institucional da história norte-americana, e The Rise of the Western World, de 1973, escrito com Robert Paul Thomas, que procura fazer uma leitura econômica não marxista da transição do feudalismo para o capitalismo. Ainda na tentativa de melhor entender o papel das instituições na evolução das sociedades, publicou, em 1981, Structure and Change in Economic History. Em 1983, transferiu-se para a Washington University em St. Louis, onde fundou o Centro de Economia Política com outros jovens cientistas políticos e economistas. Ao longo dos anos 80 preparou a pesquisa que culminaria em seu livro mais célebre: Institutions, Institutional Change and Economic Performance, de 1990. Nesse trabalho, analisa a dinâmica institucional das economias, encontrando, segundo suas próprias palavras, as respostas teóricas que procurava. O do mundo ocidental como referência – Os pontos de referência utilizados por North em sua análise são os casos de sucesso das economias do Ocidente, notadamente da Europa Ocidental e dos Estados Unidos onde o papel das instituições tem uma importância fundamental. Para North estas economias conseguiram desenvolver instituições capazes de garantir o crescimento econômico de longo prazo. Em seu trabalho The Rise of the Western World, A New Economic History (1973) em co-autoria com Robert Paul Thomas, mostra como a Holanda e a Inglaterra foram capazes de superar com sucesso as dificuldades impostas pela transição do feudalismo para o capitalismo. As instituições criadas no final da Idade Média pelas cidades holandesas e belgas – Bruges, Ghent, Antuérpia, culminando com Amsterdã – em parte inspiradas em práticas de cidades italianas – Gênova, Veneza e Florença – e em seguida pelas principais cidades inglesas, Londres e Bristol, teriam sido capazes de levar ambas as regiões a um crescimento econômico extraordinário mesmo antes da Revolução Industrial. Essas sociedades teriam sido as primeiras capazes de transformar o crescimento populacional em verdadeiro crescimento econômico e não em crises de empobrecimento. O crescimento populacional dos séculos XI e XII somado ao decorrente aumento do comércio provoca mudanças na estrutura institucional da Europa Ocidental, notadamente devido a ampliação das cidades e à urbanização. Contratos como a commenda e a societas, que envolviam a cooperação de um sócio investidor e um sócio “viajante”, o ressurgimento de bancos de depósito e a criação de formas incipientes de contratos comerciais, contratos de câmbio e troca de moedas e seguros significavam grandes avanços em termos da organização do processo produtivo. Com o renascimento comercial e urbano, parte das transações econômicas, antes restritas ao perímetro feudal, passariam a ser efetuadas nas cidades dando origem a mercados organizados. Gradualmente o trabalho passaria a ser direcionado para a produção mercantil em detrimento das atividades de subsistência. Pouco a pouco, as cidades iriam ganhar espaço em relação aos feudos, trazendo grandes complicações ao arranjo institucional antes prevalecente. Os contratos de servidão feudais, por exemplo, passariam cada vez mais a competir com as incipientes relações mercantis presentes nos centros urbanos onde a mão de obra era “livre” para ser explorada – “o ar das cidades torna os homens livres” era o refrão da época. Essa evolução não seria, entretanto, linear. O grande progresso institucional observado dos anos 1000 aos anos 1300 é interrompido por um período de estagnação que vai pelo menos até meados dos anos 1400. Retomando a tensão básica de North, se por um lado o crescimento populacional desencadeou uma série de inovações institucionais, notadamente o ressurgimento dos mercados, por outro, trouxe vários problemas ao cenário do oeste europeu por conta do descompasso surgido entre a produção de alimentos e as necessidades de uma população crescente. Os retornos decrescentes da agricultura, decorrentes da ausência de inovações tecnológicas, fizeram com que muitas sociedades entrassem em colapso nesse período. North destaca que os séculos XIV e XV foram marcados por fomes e pestes devido ao aumento da pobreza relativa. As Instituições bem-sucedidas. – Ao analisar o surgimento dos estados modernos, North indica os casos da Holanda e Inglaterra como exemplos bem-sucedidos de arranjos institucionais para estimular atividades produtivas. Nos países de sucesso econômico, teria havido um equilíbrio de poder entre as monarquias e produtores que favoreceu a confecção de leis e regras propícias ao desenvolvimento do comércio e da indústria. Na Espanha e França, principalmente na primeira, leis e organizações institucionais protetoras de monopólios não teriam contribuído para o florescimento de atividades economicamente produtivas. No caso das Companhias das Índias Orientais e Ocidentais na Inglaterra e Holanda também havia monopólios, no entanto eram principalmente concentrados no comércio das colônias. Internamente o comércio de manufaturas e os mercados de produtos agrícolas floresciam em ambiente de concorrência. O ponto mais importante do sucesso econômico não estaria no avanço tecnológico ou na acumulação de capital, mas sim nas regras ou arranjos institucionais que estimulam ou inibem as atividades produtivas. O segredo para se atingir o crescimento está na construção de uma matriz institucional com leis e regras que estimulem a acumulação de capital físico e humano. Para North a grande distância observada ainda hoje entre países pobres e ricos encontra-se muito mais em diferenças entre matrizes institucionais do que em problemas de acesso a tecnologias. Sociedades pobres encontram-se nessa situação justamente por não terem desenvolvido uma base de regras, leis e costumes capazes de estimular atividades economicamente produtivas, especificamente acumulação de capital e de conhecimento. Douglass North como Referência – A partir da obtenção do Prêmio Nobel em 1993, North passou a ser referência obrigatória para todos que se interessam em estudar o desenvolvimento das economias ao longo prazo e, mais especificamente, os determinantes da “riqueza e pobreza das nações”. A principal contribuição de North está em sua teoria institucional. O autor procura demonstrar como o crescimento a longo prazo, ou a evolução histórica de uma sociedade, é condicionado pela formação e evolução de suas instituições, “regras e restrições concebidas e implantadas pelos seres humanos que condicionam suas próprias interações”. Os esforços de Douglass North somados aos de alguns outros autores — Williamson, Coase, Demsetz, Alchian, entre outros — deram origem ao programa de pesquisa que se convencionou chamar de Nova Economia Institucional. Essa agenda de trabalho vem apresentando vários frutos. Além do Prêmio Nobel de Economia recebido por North, vale mencionar também a laureação de Ronald Coase em 1991. O volume da literatura da Nova Economia Institucional é crescente, e a julgar pelo número de adeptos, hoje poderíamos dizer que essa corrente constitui um programa de pesquisa cada vez mais amplo em economia. Veja também Cliometria; Coase, Ronald; Prêmio Nobel de Economia; Societos Moris.